domingo, 15 de maio de 2011

Colagem

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Sobre a Maturação
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As colagens geralmente não me custam muito esforço, o que elas precisam é de delicadeza e algum silêncio. Com muito cuidado e com alguma dose de acaso, elas se dão às mãos e aos olhos, quase sempre depois de esboçar um conjunto de sutis variações. Nada disso leva muito tempo.

Mas depois passo dias, às vezes semanas e até anos, desenhando a partir delas, experimentando suas linhas, suas cores, não importa com que material, escrevendo sobre elas. Até que de alguma forma elas ganhem sentido, simbólico até certo ponto. Preciso que elas guardem sua natureza gráfica até o último estágio, numa tela, num jato de areia sobre o vidro ou no cimento. Nada garante que o trabalho que resulta dessa ponta represente algum progresso em relação ao início do processo. Nem o sentido que procuro precisa ser explicitado, basta que ele exista de forma latente.

Penso seguidamente nesses lapsos de tempo de que preciso para conviver com um primeiro esboço, com uma colagem crua ainda, com uma tela apenas iniciada. E me pergunto, perdendo de vista a realidade física do trabalho, por quê? Será que os sentidos do mundo só me chegam com vagar, quando chegam? Será preguiça? Ou falta de ímpeto para superar meus sem sentidos íntimos, ou mesmo certo prazer de dilatar no tempo esse vazio? O que acontece é que desço a correnteza do único rio que passa pela minha aldeia.
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