sexta-feira, 27 de julho de 2012

meu JARDIM







Última placa de vidro do painel "jardim", pronta para ir para a cabine de jateamento. O que está coberto pela fita fica transparente, o que está descoberto fica fosco. Camuflada entre as folhas da costela de adão, uma pequena lagartixa; no alto uma corujinha voando, na base do vidro um carreiro de tanajuras. E assim as sete placas, num total de 12,5 m², estão prestes a serem instaladas, depois de quatro meses ininterruptos de trabalho.


terça-feira, 24 de julho de 2012

Gengibre vermelho





Mais do que esboçar o trabalho final, com estudos como esse pretendo definir um ritmo, ao memo tempo que vou acostumando a mão a ele, seja usando o lápis, seja usando o estilete. E espero que a mão seja capaz de improvisar naturalmente no momento preciso. Sem esquecer os achados anteriores, como o xadrez que se deu nesse estudo em vidro do hedychium coccineum, popularmente comhecido como gengibre vermelho.

O painel de vidro, ao qual esse detalhe remete, com um ritmo que se mantém de uma planta para outra, nos melhores momentos abstratizado, ele equivale a um concerto de câmara, mais especificadamente a um quarteto de cordas. Mas com humor, dado pelos pequenos animais que vou introduzindo, quase sempre ao rés do chão. Tudo envolto em um silêncio de água, mais do que de ar, o que se deve à incidência da luz sobre as áreas jateadas do vidro. Gravar em vidro alia precisão e improviso.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

bicicleta no mato



fotografia (do livro Bicicletas de Montreal)
cópia preto e branco, feita em laboratório químico
80x110cm (incluídos passepartout e moldura em alumínio)
R$ 4.200,00


quarta-feira, 11 de julho de 2012

Eugenio Montale / 4



MOTIVOS


Talvez não tenha sido inútil
tanto esforço
tanta dor.

Talvez pense assim
de nós e de si mesmo
esse falso papagaio tropical
que palra na gaiola
imitando nossa voz.

Há quem palre demais
e quem palre de menos.
Humanos são os dois extremos.





MOTIVI

Forse non era inutile
tanta fática
tanto dolore.

E forse pensa
così di noi e di sé
questo pseudo merlo orientale
che fischia nella sua gabbia
e imita la nostra voce.

C’è chi fischia di più
e c’è chi fischia di meno
ma anche questo è umano.


Tradução de Carlos Dala Stella

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Dalton Trevisan



  




O coração da alcachofra


Li Desgracida em São Paulo, de madrugada. A outra metade no final da manhã, ainda na cama. Encantado com o peixe vivo no extremo de cada linha. Quanto mais curto o verso, mais certeira a punhalada de lírios e rosas. E um espanto me rondando, como é possível essa vivacidade ininterrupta, aguda de doçuras e espelhos?

Se o contista é uma alcachofra de folhas chupadas, o que sobra no prato da página é o melhor: o coração da alcachofra. Quando antes um ponto final tão lúcido na literatura brasileira? Só em Machado, mas nele faltou a doçura que em Dalton matiza toda ironia.

E isso agora, essas cartas fechando o volume, mal traçadas linhas? Só a primeira, dirigida a Pedro Nava, vale por uma oração. Vai nela um elogio tão sincero, de grandeza tão desmedida, que nos vemos no encontro de dois imensos rios. Do gênio do Negro e do Solimões, surge o Amazonas que nos banha a todos.

E quando desce o ferro em O General em seu Labirinto? Só a ponta da lança, o veneno sem adjetivo. Quanta distância dos cenográficos andaimes da crítica de jornal. No lugar da pose, a auto-ironia de arara bêbada. No lugar do ventriloquismo exibicionista, a pedrada contra a lei morta do silêncio.

A cada página de alegria tão desgracida, a certeza como um tônico. Morar nessa cidade, sabendo que Dalton vive nela, redobra meu ânimo. Incrédulos, que Belém que nada, o Amazonas passa por aqui.