terça-feira, 20 de novembro de 2012

sobre o Sentido




1 Que importa se às vezes esperam que contemos uma história? Não apenas um poema, um desenho, ou uma pintura, mas mesmo um painel de cimento tem muito pouco a ver com os fatos, com a história de alguns fatos. O que importa é esse sentido abstrato, que provém das linhas e dos volumes, das cores quando há cor, da modulação das formas - nem por isso menos direto, menos inequívoco. É esse sentido que nasce da matéria animada a única coisa que no final das contas procuramos. É ele a razão de cada um de nossos dias, com um frescor vital, com uma essencialidade gratuita só comparável ao ar, à água, ao amor, às crianças, às árvores...

2  A representação da realidade é tão forte como a corporificação dos objetos. É preciso preservar a todo custo o frescor e a capacidade de alegria que exercitamos sem limite durante a infância. A imaginação não pode ser penalizada pela existência dos objetos, pela unipresença da ralidade. Nossa identidade não passa de um ser de imaginação.

3  Para ser compreendido, o pintor não precisa dizer tudo, ou quase tudo, ao contrário do romancista, por exemplo. Os poetas também são assim, boa parte do sentido que vai em seus poemas é dito de forma vaga, mas não menos assertivamente. E exatamente nisso é que reside a vantagem da pintura, nessa economia de meios - abarcada por um único lance de olhos. Os sentimentos do pintor e do espectador parecem se encontrar de modo mais direto. E quantos sentidos germinam no subsolo desse encontro!

4  Por trás de algumas telas - e mesmo de alguns desenhos - há dezenas de horas de reflexão. Isso quando não vai nelas toda uma vida de impressões meditativas. 

5  Romero Brito é um pastiche de Leger, uma simplificação pop até o nível mais baixo de indigência, e por isso mesmo cada vez mais acessível a essa mediocridade desenvolta e colorida que esvazia o mundo de todos os sentidos. 
 

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